Mutismo seletivo:
Mutismo seletivo:

Acabou de receber uma ligação do jardim de infância comunicando que seu filho não fala em absoluto?

Foi chamado para levar seu filho para uma reunião com o professor e assim, de repente, descobriu que ele(a) nunca havia falado na escola com os professores, nem com os coleguinhas?

Muitas vezes acontece assim mesmo. Os pais são chamados pelos professores para ser informados de que seus filhos não falam em absoluto. Esta é uma notícia muito chocante que cria emoções diversas, desde surpresa até raiva, frustração e medo. A maioria das vezes os pais tendem a acreditar que o filho está sendo demasiadamente tímido no novo ambiente ou simplesmente rebelde ou mal criado. A realidade é que comumente, se já passou mais de seis meses desde que a criança começou a assistir as aulas permanecendo calado, precisamos seriamente considerar que a criança apresenta Mutismo Seletivo.

Aqui desejo mencionar sobre uma classificação que Hayden (1980) desenvolveu identificando quatro subtipos de Mutismo Seletivo. Este autor fala sobre o Mutismo Simbiótico; o Mutismo causado pelo medo de falar; aquele que é resultado de um evento intimidante ou tumultuado; e, finalmente, o que poderíamos chamar de Mutismo Passivo-Agressivo.

O pimeiro que precisa ser considerado quando se descobre que a(o) filha (o) não fala na escola é saber se esta “conduta” – mutismo, acontece exclusivamente na escola e alguns outros lugares ou circunstâncias sociais fora de casa. Se a resposta é afirmativa, necessita pensar em quantas vezes pensou que sua filha era somente “tímida” na rua quando estava próxima a pessoas estranhas, então deveria considerar seriamente encontrar apoio profissional de um psicoterapeuta com capacitação nesta condição.

O DSM-IV RE (o Manual de Diagnósticos mais usado para condições psiquiátricas) requer um mês de mutismo em prévias circunstâncias para diagnosticar a uma criança com Mutismo Seletivo. No entanto, existem pesquisadores e estudos mais atualizados que apoiam a necessidade de que é preciso extender este período a, pelo menos, seis meses. Nosso conselho é não esperar a que passem seis meses para procurar apoio profissional. Lembre-se que os fatores que muitas vezes podem garantir um prognóstico positivo – resultado após um tratamento – são a detecção imediata e a intervenção consistente por parte de profissionais.

 

Vendo o M.S. Através dos Olhos da Ciência

É muito frustrante, mas certo, que o M.S. ainda não foi centro de estudos empíricos a grande escala, exceto por umas poucas exceções. O por quê? Bom, aparentemente são muitos os fatores em jogo para que este seja ainda a situação com relação ao interesse e apoio que esta condição cria no mundo científico e terapêutico. Felizmente sabemos que a cada mês e a cada ano o crescimento e a divulgação da informação a respeito, como também de casos e tratamentos vão-se fazendo cada vez mais globais e assessíveis ao público que assim o procura. Isso não significa que estejamos perto do que acreditamos como aceitável ou desejável com respeito à educação, difusão e apoio com relação ao M.S. No entanto, aqui estamos falando de M.S., lendo sobre o assunto, buscando informações e apoio e assim, colaborando para uma mudança e melhora das coisas.

A literatura que podemos encontrar com relação a esta condição, vista como relativamente pouco comum provém do estudo de casos e experimentos baseados em casos individuais. Diria que se não fosse pela pressão de pais e gente sensível e preocupada pelos que sofrem em silêncio e suas famílias, não houvesse dado nenhum progresso nos últimos anos.

A evidência encontrada por estudos prévios levaram a uma mudança recente a respeito da crença dominante no passado, sobre a etiologia da condição. “Em lugar de se enfocar em fatores psicodinâmicos, a literatura atual enfatiza os componentes temperamentais medianos biologicamente, o que aponta à relação do M.S. com os transtornos de ansiedade” (Black, 1996). Isto significa que o que antigamente se associava à origem do M.S., equivocadamente, como essencialmente consequência de fatores de criação e outros exclusivamente psicológicos, hoje se entende que há uma base genética, uma predisposição no sistema nervoso para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade, e entre eles, o que chamamos de M.S.

Em nossas próximas notas, iremos comentando a respeito das investigações ao redor do que se conhece e compreende hoje em dia com relação ao M.S. Além disso, também retomaremos à resposta de suas consultas através de nossos artigos. Muito obrigado por sua paciência de sempre e apoio apesar dos contratempos técnicos e de recursos notificados no artigo anterior.